O abominável verão quente e úmido do Japão exige uma série de pequenas estratégias cotidianas de sobrevivência.
Estas estratégias estão presentes por exemplo nas arquitetura tradicional ventilada de paredes móveis, nos arrepios provocados por histórias de terror ou pelo delicado som provocado pelo embalo da calda de um 風鈴 [fuurin] (sino).
Mas também está presente nos doces feitos de cítricos. Em Kyuushu existe uma variedade cítrica chamada zabon, uma laranja gigante de cor amarelada e gosto um pouco amargo. É de uma variedade dessas que é feito o wakachijukushi, a gelatina cítrica da loja Sentarou. Essa é uma loja de doces tradicionais japoneses. Existem inúmeras lojas de doces tradicionais japoneses, mas essa é muito famosa pelo sabor refinado do anko (pasta de feijão doce).
Eu gosto bastante de cítricos e uma das coisas tristes de constatar no Japão (falo de Kyoto) é a não existência de suco de laranja espremido na hora. Suco de frutas natural é algo que não parece fazer muito sentido na cabeça do japonês. Eu falei com diversas pessoas por aqui e o que geralmente se passa na cabeça delas é “para quê fazer suco da fruta se é possível comer a fruta?”. Esse pensamento tem a sua razão socioespacial de ser.
O wakachijukushi é um doce muito bonito de se ver, mas extravagantemente caro para se comprar. Esse ano (2018) dei a sorte de ganhar um e assim pude finalmente experimentá-lo. Talvez eu precise de mais tempo para apurar meu paladar e fazer minha mente entender o sabor. Não é ruim, mas o que se passou na minha cabeça foi “para quê fazer gelatina da fruta se é possível comer a fruta?”.